ESCOLA DOMINICAL

A conspiração dos inimigos contra Neemias
Subsídio da Escola Dominical - Lição 05 - A conspiração dos inimigos contra Neemias




Do ponto de vista daqueles a quem Neemias chama de “nossos inimigos” (6.1), a situação era, agora, desesperadora. Sua meta, o tempo todo, fora impedir Jerusalém de voltar a ser uma cidade fortificada, e os muros já estavam completos, faltando apenas colocar as portas nos portais – uma tarefa maior, sem dúvida, para a qual necessitavam de andaimes e equipamentos especiais – e as próprias portas tinham de ser manufaturadas. Sambalate e seus companheiros tinham, portanto, um tempo bem curto para frustrar a obra, e é fascinante observar como eles o usaram. O alvo deles tinha de ser a derrota pessoal de Neemias, porque nada menos que isso impediria a conclusão de seu projeto. Mas como conseguir tal coisa? Três ideias engenhosas foram experimentadas.
O esquema número 1 pode ser descrito como política amistosa. Sambalate e Gesém fizeram um convite cortês, e até melífluo, a Neemias, para que comparecesse a uma conferência do alto escalão, em território neutro. “Vem, e congreguemo-nos juntamente nas aldeias, no vale de Ono” (6.2), isto é, na metade do caminho entre Jerusalém e Samaria. Como destaca o Dr. Boice, o gesto parece um discurso de concessão feito por perdedores numa campanha política: “Neemias, não adianta fingirmos que não nos opúnhamos ao seu projeto. Opusemo-nos… Mas você foi bem-sucedido, apesar de nós, e agora é inútil sustentar-mos nossa oposição. Para o que der e vier, teremos de conviver, você como governador de Jerusalém, e nós como governador de nossas províncias. Então, sejamos amigos. O que precisamos é de uma reunião de cúpula”.
O aparente reconhecimento do sucesso de Neemias foi lisongeiro; o convite a arranjar um meio de conviver soava cativante e vantajoso. Lisonja e vantagem imaginária tem sido sempre uma potente combinação para virar a cabeça das pessoas. Em negócios e em política, pessoas imprudentes têm tido os seus julgamentos alterados por essa artimanha o tempo todo. A cabeça de Neemias, porém, não foi virada, como o demonstra a sua réplica ao convite.
“Porém intentavam fazer-me mal”, escreveu Neemias. Como ele sabia? Teria ele um sistema de espionagem? Ou simplesmente juntou dois mais dois – seu conhecimento prévio dos homens que o estavam convidando, a consciência de que o leopardo não muda as pintas, e mais o fato de que o vale de Ono, a um dia de jornada de Jerusalém, fazia divisa com os territórios de Samaria e Asdode, e a observação do quão facilmente a violência é arranjada nas aldeias – e concluiu, ao somar essas coisas, que dois e dois são quatro? Indubitavelmente, ele estava certo ao suspeitar de um complô assassino. Sem dúvida, o lamentoso comunicado a Jerusalém, “Sentimos muito dizer-lhes que houve um triste incidente, e infelizmente Neemias está morto”, já havia sido esboçado. Todavia, por quatro vezes Neemias recusou o convite (6.4), e a conspiração deu em nada.
Contudo, note como ele expressa a recusa. Aquilo era política, e em política não se deve dizer nada impolítico, que possa ser usado contra você. Então Neemias não fez referência a sua suspeição da boa fé do proponente. Evitando a linguagem do insulto inflamatório, declarou simplesmente: “Estou fazendo uma grande obra” – e não posso dispor dos três dias ou mais (ao menos dois para viajar e uma para conversar), que a conferência tomaria (6.3).
Fora isso uma desculpa evasiva? Não, nada disso. Fora, antes, a invocação das verdadeiras prioridades do interlocutor, dadas por Deus. Foi uma resposta sábia, que revelou uma vez mais a habilidade de dizer “não” às distrações – uma das características de Neemias. Embora a sua habilidade de concentrar-se fosse, ao menos parcialmente, um dom natural, a sua determinação objetiva e centrada em Deus era, decerto, sustentada pela graça, algo que a liderança de Neemias requeria. A teoria, mesmo em grande quantidade, não ajudará um jogador de golfe se ele não mantiver os olhos na bola. De igual modo, uma grande quantidade de sabedoria não fará de alguém um líder se ele não mantiver firmemente em vista as suas prioridades. Neemias sabia, desde o princípio, que Deus e Artaxerxes – Deus por intermédio de Artaxerxes, como ele teria dito – haviam-no enviado a Jerusalém, em primeira instância, para reconstruir os muros, e nada o impediria de concluir esse trabalho o mais rápido possível. Esta foi a sua atitude no começo, e assim permaneceu até que a obra se completasse. E é evidente que a sua franca recusa em deixar-se distrair foi, durante todos os anos que passou em Jerusalém, uma fonte de vigor.
John White discorre longamente sobre o ponto de que as conversações realizam bem pouco, quando os objetivos dos interlocutores divergem entre si (como os de Neemias e Sambalate certamente divergiam). White ilustra isso falando dos dias em que suportou a pressão ecumênica, como presidente da universidade Christian Union, afiliada ao Inter-Varsity Fellowship (atualmente, na Grã-Bretanha, Universities and Colleges Christian Fellowship), para conversar colaborativamente, talvez pela união, com o Movimento Cristão Estudantil, uma sociedade preparada para promover, em debate público, a proposição de que “as religiões do mundo são compatíveis”. A reminiscência de White recorda-me que, uma geração antes, o falecido Fred Crittenden, reiniciador da Oxford Inter-Collegiate Christian Union nos anos vinte, fora solicitado a ter uma conversa semelhante com os líderes da S.C.M., talvez para eliminar de cena o nascente O.I.C.C.U. Eu o ouvi contar como dera um “não” por resposta, usando a passagem de Neemias para fundamentar sua recusa. As pessoas comprometidas a propagar um cristianismo plenamente bíblico sentem no coração o eco das palavras de Neemias: “Estou fazendo uma grande obra”, e constantemente fundamentam nisso o seu diálogo com aderentes de projetos infrutíferos e confusos. Devemos apreciar também, deste ponto de vista, a sabedoria demonstrada por Neemias em não perder tempo conversando com Gesém e Sambalate.
Fonte: CPAD

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